BREVE HISTÓRIA DA LAND ROVER
O INÍCIO
Para se entender o aparecimento do Land Rover é preciso lembrar que o mesmo teve origem no seio da Rover, companhia sediada em Coventry, com raízes na indústria de bicicletas e fabricante de veículos automóveis desde 1904.
Por altura dos anos 20, a produção de veículos automóveis expandiu-se tão rapidamente que nem as vendas nem a qualidade puderam acompanhar essa expansão.
Não é assim de estranhar que a Companhia tenha entrado num período de grandes dificuldades financeiras.
É neste cenário que, por volta de 1929, é admitido Spencer Wilks vindo da Hilman, com o objectivo de alterar radicalmente a situação.
MOTORES PARA AVIÕES
Spencer Wilks ocupou o ano de 1930 a transformar a imagem da Rover e a planear o seu futuro a longo prazo, estabelecendo uma política de prioridade absoluta à qualidade, limitando a produção e concentrando-se na construção de veículos elegantes e de médio preço. O seu irmão Maurice Wilks, um engenheiro projectista com experiência, veio entretanto juntar-se-lhe.
O sucesso alcançado foi tal que, em 1936, a Companhia foi convidada a entrar no sistema de “fábricas-sombra” do Ministério do Ar – fábricas construídas pelo Governo Britânico, operadas por um construtor automóvel e destinadas à produção de motores para aviação.
Esta participação exclusivamente focada na produção de motores e outros componentes destinados ao esforço de guerra foi, indirectamente, a razão para a crise da Rover em 1947. De facto, quando em 1944 a Rover solicitou autorização para iniciar a produção de veículos civis viu-se confrontada com o condicionamento de chapa de aço, tendo-lhe sido atribuída uma quantidade que mal daria para produzir 1100 veículos.
Apesar disso Spencer Wilks apresentou o seu novo plano para o futuro da Companhia, no qual previa uma produção imediata de 15000 carros/ano do modelo P2 (anterior à guerra) e mais 5000 carros/ano dum modelo totalmente novo e ainda por definir. Este plano assumia que a produção poderia iniciar-se rapidamente, que o abastecimento de matéria-prima seria assegurado e que o retorno à condição de paz se faria sem sobressaltos.
Era uma esperança vã! O governo tornou claro que os fornecimentos de matéria-prima, em particular o de chapa de aço para prensagem de carroçarias, seria severamente racionado. Uma companhia que não exportasse a maioria da sua produção não teria qualquer apoio.
NECESSIDADE DE NOVOS PROJECTOS
A Rover estava em apuros. Não tinha experiência de exportação nem de fabricação de veículos com volante à esquerda, nem os clássicos e elegantes Rover P2, de antes da guerra, venderiam bem fora do Reino Unido. Projectaram assim um pequeno automóvel, mais universal, que utilizasse alumínio, quer nos painéis da carroçaria quer no chassis, de modo a contornarem a falta de chapa de aço que se fazia sentir. Contudo, no início de 1947, o projecto foi arquivado por se considerar que lhe faltava potencial para ser bem sucedido na exportação.
A Rover enfrentava agora um problema sério. Tinha estabelecido o seu plano de produção para o após guerra: Os Rover P2 seriam descontinuados no fim de 1947 sendo substituídos pelo P3, modelo intercalar a ser, por sua vez, substituído dentro de 2 ou 3 anos pelo P4 totalmente novo, cujos pesados investimentos já tinham sido aprovados.
Para manter a fábrica de Solihull ocupada, até que o P4 atingisse o volume normal de produção, os irmãos Wilks procuravam uma solução de recurso: um qualquer tipo de veiculo que pudesse vender bem, que fosse possível introduzir rapidamente em produção e que necessitasse de um mínimo absoluto de investimento.
Depois de muita discussão começaram a pensar em algum tipo de máquina ou veiculo agrícola que respondesse à evolução que se começava a fazer sentir neste sector.
No inicio de 1947 os dois irmãos não tinham ainda chegado a um acordo e decidiram desenvolver estudos separados durante algum tempo.
A SOLUÇÃO QUE VEIO DA QUINTA...
Maurice Wilks acabou por encontrar a resposta na sua quinta da Ilha de Anglesey onde, quando podia, se dedicava ele próprio a executar as tarefas agrícolas. Ai sentia a necessidade de uma máquina que fizesse tudo por ele, desde puxar um arado, a movimentar outra máquina estática, subir e descer em qualquer tipo de superfície, dentro e fora de água. O veiculo – pensou ele – teria que ser um veiculo de tracção às quatro rodas. Acabou assim por comprar um Willys que a Força Americana havia introduzido em 1942 na Grã-Bretanha e que existia em abundância.
Era barato e fiável.
O Willys foi trabalhando e começou a apresentar sinais evidentes de velhiçe, o que levou o seu irmão Spencer, durante uma visita à quinta, a perguntar-lhe o que pretendia fazer quando o Willys finalmente não tivesse concerto.
A resposta de Maurice foi “comprar outro, pois não há nada mais que eu possa comprar”. De repente ambos tiveram a mesma ideia. Se assim era, talvez a Rover devesse conceber uma alternativa. Imediatamente, após este importante fim-de-semana no campo, Maurice Wilks volta a Solihull e começa a trabalhar no projecto.
Não tem qualquer orientação do departamento de Vendas e é ele próprio que baptiza o projecto – Land Rover!
Dadas as dificuldades financeiras e a urgência em avançar, as instruções gerais passadas ao projectista Gordon Bashford foram muito pouco especificas. O veiculo devia ser como um jipe mas mais útil para um agricultor. Teria de usar peças Rover já existentes, tanto quanto possível, e teria que ser brutalmente simples para minimizar os investimentos em ferramentas.
Estas directrizes ficaram bem patentes nos primeiros protótipos, construídos sobre chassis Willys para poupar tempo no desenvolvimento, com um só banco do condutor ao centro, sem portas, sem capota e com carroçaria em alumínio – o que, além de contornar as dificuldades de abastecimento de chapa de aço, facilitava a enformação dos painéis de carroçaria e aumentava a resistência à corrosão.
Os trabalhos iniciaram-se na Primavera de 1947, o primeiro protótipo ficou pronto no final do Verão e o Land Rover foi apresentado no Motor Show de Amesterdão, no fim de Abril de 1948. Os primeiros veículos foram entregues durante o Verão do mesmo ano!
A Rover ficou a dever a sua sobrevivência a este extraordinário e espantoso veículo, que acabou por dar o seu contributo não só no trabalho agrícola, ao qual se destinava, mas em acções levadas a cabo em desertos, pântanos e montanhas de todo o mundo, evoluindo ao longo dos anos, da Série I à Série III e servindo de base e referência para os modelos futuros da marca particularmente os actuais Defender.